Texto escrito pela Psicóloga, Doula e Professora do Núcleo, Lizia Barcellos
Uma mãe que recém pariu seu filho passa por uma ruptura emocional, como se atravessasse um túnel que a leva, repentinamente, para um novo espaço onde encontra-se com uma nova mulher, desconhecida para ela até este momento.
Essa nova mulher, na qual ela se tornou, agora é mãe de um bebê totalmente dependente dela. O filho que antes ela gestava e idealizava, agora é um bebê real, com necessidades reais e demandas inesgotáveis.
Da mesma forma
essa mulher que pariu seu filho deixa de ser a mãe que idealizava ser, antes do nascimento de seu bebê. Ela passou a gestação sonhando e se preparando para vida que viria após o parto. No entanto, todo esse preparo se referia à suposições teóricas, todas baseadas no campo das ideias de como viveria a nova realidade.
Porém, quando o filho chega, a realidade chega junto e, muitas vezes, ela vem carregada de sentimentos contraditórios que fazem a mãe se sentir confusa, desconfortável ou, até mesmo, incapaz de ser mãe. Isso acontece por fatores hormonais, neurológicos e emocionais, já que o pós-parto e o puerpério são fases de grandes e repentinas mudanças tanto fisicamente, quanto psicologicamente.
Tudo muda muito rápido.
A mulher deixa de estar grávida, seu bebê precisa de cuidados intensos, ela deixa de ter tempo pra cuidar de si, já não pode realizar as mesmas atividades que realizava antes. E tanto seu corpo, quanto seu cérebro, também estão passando por adaptação e assimilação das novas demandas.
Por todos esses fatores, é essencial que a mãe tenha suporte emocional para que sinta-se segura e confiante das suas percepções e sentimentos. Ou seja, para que a mãe dê conta de assimilar a nova realidade e cuidar de seu filho de forma a suprir física e emocionalmente as necessidades deste pequeno ser humano, é de grande valia o amparo, acolhimento, respeito e compreensão em relação a essa mulher para que ela possa entregar-se ao profundo processo de adaptação que está vivenciando, sentindo-se acolhida em sua desestruturação psíquica decorrente do parto e pós-parto. Nesse sentido, uma rede de apoio afetiva e estruturada, faz total diferença no encaminhamento dos primeiros dias, semanas e meses desde a chegada deste bebê.
Entretanto, esta rede de apoio, para ser válida e efetiva, deve ter bem clara qual a sua função e seu lugar ao lado dessa mãe.
O objetivo é dar apoio e auxiliar a mãe nas necessidades que ela manifestar e pedir ajuda, sem invadir os limites da relação dual mãe-bebê, sem pressionar a mãe para que esta aja de acordo com regras alheias de criação dos filhos e sem julgar, reprimir ou repreender as emoções expressas pela mãe em relação às suas experiências com a maternidade. Quando a mulher tem a oportunidade de falar abertamente das suas emoções e percepções em relação ao nascimento, ao parto, em relação à maternidade e ao seu filho, ela ganha a chance de elaborar essas emoções que parecem contraditórias e negativas. Dessa forma, essa mulher permite-se acolher tudo o que se passa dentro dela sem precisar culpar-se por sua imperfeição. Portanto, o cuidado respeitoso com as mulheres puérperas promove o estabelecimento de vínculos mais saudáveis e verdadeiros nessa relação mãe-bebê, já que, assim, a mãe ganha força e recursos internos emocionais para conhecer seu filho com olhos de quem conhece outro ser humano. Afinal, essa também é uma relação a ser construída e, como toda relação, tem seus desafios, dificuldades, superações, alegrias e afetos envolvidos.
Uma mãe bem cuidada, respeitada e acolhida é uma mãe que pode se respeitar, acolher e cuidar bem do seu bebê!